21 de janeiro de 2010

E mais uma vez tornou-se outra, e dessa vez Tinha



quando não podia
ou quando temia
lamentava viver num marasmo brutal
ausente de fantasias
e
nesses dias
fazia questão de não se lembrar
logo não demorava muito
sua vida logo esquecia
só pra inventar-se
e era como queria
no meio de suas volupiosas ruas interventivas
calçava-se -se de todos os sonhos
de todos os monstros que tinha
e o amor que por lá sempre fez sua caminha
era dela devoto
e o seu era entregue por um carteiro
que se chamava Demasia
a realidade
ali
tão cheia de verdade
pura em si
ou seria ela tão burra?
se fosse uma coisa
seria uma intempestiva-colorida-de-letreiro-neon-macia
o que mais a fazia sentir?
o que sentia se
sentia-se
era
assim
tão áspera como a seda que a vestia
tão ríspida quando ternura que a envolvia
tão frígida quanto o desejo que ela expurgava
tudo fazia quando esquecia
tudo dizia inventar
até um jazz na vitrola da vodka
no pé do samba
um palco pra tomar o seu chá
no ouvido do pé
até uma xícara de cigarro
e uns meninos-de-café
então decidiu:
Tata
mais
não!
ela era...
mais uma vez outra
e dessa vez
T I N H A
e de Muchacha ainda
pois não descasara de sua porção medíocre e latina
Tornou-se mulher do raio
bailarina de um xequeré
e seu pandeiro cantava como um chocalho
Então Tinha por que?
era Tinha não de te-tinha
mas de pre-ta que era
de miudinha
e não de passado
agora alguns de seus meninos também eram chiclés
por que Tinha herdara de seu Orixá-Pai
a esquerda de todos os santos
e seu lindo Cabaret!

Com devoção virada,
Tinha (ainda) Muchacha

Nenhum comentário: